RADIOLOGIA INDUSTRIAL


















A introdução dos Ensaios não Destrutivos (END) na indústria

Wilhelm Conrad Roentgen fez a sua significativa descoberta dos Raios-X em uma sexta-feira, 8 de novembro de 1895, em seu laboratório na Universidade de Wurzburg, na Alemanha. Ampla matéria publicada na Evaluation, revista da ASNT, a associação americana de END, em 1995, diz ainda que no ano seguinte os jornais de todo o mundo publicaram notícias desses novos raios e sua habilidade de passar através da carne e outros materiais. As notícias foram motivadoras e causaram grande repercussão da tecnologia no meio médico, embora Roentgen e outros pesquisadores anteriores tenham mostrado imagens de “coisas” nos Raios-X, como espingarda e bússola. Isso aconteceu muito tempo antes do uso não-médico dos Raio-X tornar-se importante.

Radiografia tirada por Roentgen de seu rifle de caça. Observe que há um pequeno defeito no cano. Com essa foto, Roentgen antecipou o uso industrial dos raios-x como controle de qualidade de peças.








Documentos históricos mostram que o uso dos Raios-X na indústria iniciou-se na Primeira Guerra Mundial, relacionado os armamentos. Existem registros de inspeções realizadas na Alemanha na década de 1920. Apesar desses esforços iniciais, o uso dos Raios-X em END não se tornou importante comercialmente até o período da Segunda Guerra Mundial. Isso é verdadeiro, apesar de muitas investigações bem realizadas para demonstrar a sua utilização para o exame de materiais.

Nos EUA, técnicos em END citam o trabalho inicial de Horace Lester, no Arsenal Watertown, como o precursor do nosso uso atual dos Raios-X em END (Lester, 1922, 1923). O trabalho de Lester foi significativo porque demonstrou claramente que os Raios-X podiam ser usados para localizar falhas internas em fundidos, soldas e outras formas metálicas e que estas falhas poderiam conduzir a uma quebra prematura. As contribuições de Lester foram também importantes por causa da sua posição preeminente no campo metalúrgico (Wenk, 1969).

A História dos END no Brasil

Segundo o professor Paulo Gomes de Paula Leite, no artigo “A Origem dos END no Brasil”, publicado na Revista dos END, em 1989, os Ensaios Não Destrutivos foram introduzidos pela Marinha Brasileira na década de 1940, para construção naval, com a utilização dos Raios-X.

Duas décadas depois, em 1963, o jornal Diário do Comércio, publicado em São Paulo, destacava em meia página o trabalho realizado na área de END pela Metaltest Cia. Brasileira de Ensaios e Industrial, empresa fundada em abril de 1959 e que foi a primeira de END no país.

Raimar Schmidt, que iniciou na área de END em 1969, conta que na época o maior problema era a falta de conhecimento generalizado sobre os END, tanto por parte de gerentes quanto de compradores e, principalmente, dos usuários.

Na primeira metade da década de 70, o físico Oswaldo Rossi Jr., ex-presidente da ABENDE, hoje membro de seu conselho deliberativo e sócio-diretor da Inter-metro, fundou a segunda empresa de END no Brasil, a NDT – Sociedade Civil de Engenharia e Inspeções, atualmente NDT do Brasil. “A NDT iniciou na área de ultra-som e também, logo em seguida, começou a fazer inspeções radiográficas. Foi uma época muito interessante, com demanda elevada de serviços, motivada pelo início da boa expansão industrial”, comenta.

De acordo com Alcides Taveira, a implantação dos END no país deu-se por uma imposição da indústria, que tinha que buscar a melhoria da qualidade tanto física como técnica de seus produtos. “Com essa implantação toda a indústria brasileira cresceu em termos de qualidade.”

Renato dos Santos Pereira diz que a época foi muito promissora para os END. “Tínhamos que vencer as barreiras tecnológicas da construção de equipamentos para a indústria química, petroquímica, nuclear, ferroviária e siderúrgica, entre outras”. Nos anos de 1970 o Brasil teve que se enquadrar dentro do panorama tecnológico mundial, pois equipamentos de grande responsabilidade estavam sendo construídos pelas nossas indústrias para a implementação de novas refinarias, novas usinas hidroelétricas, novas usinas siderúrgicas, plataformas marítimas. Além disso, o programa nuclear Brasil-Alemanha estava sendo iniciado. Dessa maneira, começou-se a exigir no país requisitos de confiabilidade na execução dos Ensaios Não Destrutivos equivalentes aos que eram exigidos no exterior, pois isso passou a representar, no final, um aumento da segurança de operação desses equipamentos”,

No final da década de 1970, começo da de 1980, conta Waldir Algarte Fernandes, a PETROBRAS começava a contratar a construção das primeiras plataformas de produção de petróleo da Bacia de Campos e passou a exigir que os operadores de END fossem certificados. “A PETROBRAS, através do Serviço de Engenharia, criou um centro de certificação de processos e pessoal de Ensaios Não Destrutivos em São José dos Campos, o SL/SEQUI (Setor de Certificação, Qualificação e Inspeção dos Serviços de Logística de Engenharia). Para a certificação era exigido que o candidato tivesse um treinamento teórico e prático sobre aquele ensaio.” Ele diz que as empresas fornecedoras de produtos e serviços para a PETROBRAS não tinham que pagar nada pela qualificação dos seus inspetores de Ensaios Não Destrutivos. “Eu acredito que a criação do SEQUI, sob a direção firme de Wilson do Amaral Zaitune, foi um marco decisivo para a implementação dos Ensaios Não Destrutivos no Brasil. Não devemos nos esquecer de que os Ensaios Não Destrutivos foram decisivos e contribuíram para a auto-suficiência de petróleo no Brasil”, completa.

Surgimento da ABENDE
A existência da associação está intimamente ligada à história dos END no Brasil. Oswaldo Rossi Jr., um de seus fundadores, com mais de 25 anos de participação ativa, diz que nos idos de 1978 havia empresas nacionais e outras vindas do exterior e, com o crescimento dos trabalhos em END, surgiu a necessidade de aglutinação dos técnicos. “Em 1978 a PETROBRAS já estava em pleno desenvolvimento de seus planos de expansão e houve a necessidade de organizar e aglutinar o setor de END. Aí houve um fato muito interessante. A tentativa da ASNT de instalar-se no Brasil. Nós, brasileiros, reagimos e decidimos fundar a ABENDE. Juntamos os técnicos, os interessados e tivemos forte apoio e adesão das indústrias, inclusive da PETROBRAS, que já era forte. Em 1979 fundamos a ABENDE, num patriotismo saudável, num auto-reconhecimento das nossas capacitações”, enfatiza.

END e o Meio Ambiente
Os Ensaios Não Destrutivos exercem papel importante para evitar o descarte desnecessário e a poluição ambiental. Já em 1963, a matéria publicada pelo Diário do Comércio e citada acima esclarecia: “Não se trata apenas de assinalar e reparar um defeito já consumado, mas principalmente de estudar as causas que conduzem ao defeito, melhorar a técnica para evitar a repetição, reduzindo se assim, ao mínimo, os refugos na indústria.”.

Como exemplo da prevenção de acidentes ambientais, temos a inspeção em dutos. O vazamento de um gasoduto pode provocar uma catástrofe, mas os pigs magnéticos, END fundamental utilizado nos gasodutos em operação, detectam defeitos que, devido à pressão, poderiam originar a ruptura desses dutos.

END e a Certificação de Pessoas

À medida que os Ensaios Não Destrutivos evoluíram, a certificação dos profissionais de END se fez necessária. A ABENDE é pioneira nesse processo e, dez anos depois de criada, criou o SNQC/END – Sistema Nacional de Qualificação e Certificação de Pessoal em END. É a única entidade acreditada pelo Inmetro como Organismo de Certificação de Pessoal em END. Hoje reconhecido pela Federação Européia de END, o SNQC/END foi estabelecido com o objetivo de harmonizar os diversos sistemas nacionais existentes, segundo as necessidades da realidade e da cultura brasileira, além de refletir conformidade com as principais normas nacionais e internacionais.

O SNQC/END surgiu em 1989, num momento em que o país já dava demonstrações de que era preciso ter um Sistema Nacional de Qualificação e Certificação, que atendesse também a outros setores, além do petróleo, que já contava como SEQUI/PETROBRAS.

END e o Futuro

Neste momento em que o mercado e as empresas retomam o fôlego e sua criatividade para o desenvolvimento na área de inovação tecnológica é um fortíssimo desafio para o futuro dos END, Oswaldo Rossi Jr. acredita que a ABENDE é a grande catalisadora do processo. “Sem ela, esse processo não seria realizado facilmente.”

No entanto, Rodolfo Fraga Moreira, que participou à frente da NDT dos maiores empreendimentos do país na década de 70, e entre inúmeras realizações gerenciou diretamente, durante 10 anos, o contrato para certificação das soldas da montagem mecânica da hidroelétrica de Itaipu Binacional, onde foram executadas mais de 200 mil radiografias com emprego de Cobalto e Irídio 192, levanta alguns pontos para reflexão.

Ele afirma que um fato relevante e que contribuiu para a queda da qualidade nos serviços de END e a pouca evolução tecnológica durante os últimos 20 anos foi à alteração da forma de contratação dos END, que passou para responsabilidade do montador ou fabricante. “As empreiteiras passaram a contratar por menor preço, sem critérios técnicos, em busca apenas de resultados financeiros e registros básicos em papel das inspeções, tornando-as muito subjetivas – com exceção da radiografia, que apresenta registro integral da solda. Isso infelizmente ocorre até hoje, e é de conhecimento geral.” Moreira pergunta: “Já ouviram falar em ‘ensaio virtual’? Pois é, aqui no Brasil ocorre esse fenômeno…”.

Sobre a implantação de novas tecnologias, comenta que a resistência do mercado é enorme, pois quanto mais apurada mais se exige da qualidade da construção e montagem, o que pode não interessar a uma montadora. “Ficar no convencional, sempre que possível, esconde o que as novas técnicas revelam.”

Para ele, há um sentimento de frustração quando, alguns meses após serem investidos milhares de dólares na implantação de uma nova tecnologia, o cliente informa que vai rescindir o contrato porque “esta tecnologia está reprovando demais, detectando defeitos que os ensaios convencionais, como o ultra-som manual, não detectam”.

Diz que os “donos” dos empreendimentos devem ficar alerta e comenta que empresas prestadoras de serviço deixam de investir em novas tecnologias não só pela falta de recursos, mas também pela incerteza de que estes investimentos terão o retorno previsto.

“Temos, contudo, que continuar trabalhando, para o desenvolvimento dos END no Brasil. Porém, a ABENDE e outras entidades devem estar atentas, incentivando a implantação, o aceite e a exigência de novas e atuais tecnologias de ensaio hoje disponíveis no mundo, permitindo que os clientes finais tenham plantas/projetos mais confiáveis, que protejam as vidas envolvidas em sua operação, o meio ambiente, além de maximizarem a vida útil desses projetos. Caso contrário vamos continuar com os ensaios convencionais, fora do contexto mundial e correndo riscos desnecessários”, finaliza.

Paula Leite, o pioneiro dos END no Brasil.

O professor Paulo Gomes de Paula Leite escreveu sua trajetória profissional no desenvolvimento dos END e é uma referência nessa área, sempre lembrado por seus pares como uma figura pioneira e lendária na introdução dos END no Brasil. Por esses méritos, a ABENDE criou o prêmio que leva seu nome.

No artigo publicado na Revista dos END e citado acima, Paula Leite ressalta que, no início da década de 40 “foi um esforço muito grande para os nossos técnicos iniciarem, praticamente sozinhos, as inspeções por raios-X em obras de grande responsabilidade. Assim aconteceu no caso da construção dos contra-torpedeiros classe ‘M’, os quais foram terminados logo após serem lançados ao mar, entrando em ação no Atlântico e também no Mediterrâneo, durante a Segunda Guerra Mundial. Eles obtiveram ótimo desempenho em missões de guerra, não tendo havido qualquer acidente em soldas de alta responsabilidade de suas estruturas e equipamentos.”

Paula Leite lembra no artigo que, apesar dos problemas decorrentes do fato de o país estar em guerra, ainda se conseguia tempo para, com dois equipamentos de raios-X, cooperarem com a indústria privada, que estava empenhada na fabricação de grande número de peças e equipamentos essenciais às atividades nacionais.

Como exemplo, ele cita o cruzador americano “Cincinati”, que aportou no Rio de Janeiro em fevereiro de 1943 com o flange de aço molibdeno de sua praça de máquinas vazando junto ao parafuso de fixação. “O flange foi retirado da praça de máquinas do “Cincinati” e enviado ao Laboratório de Radiografia”. Ali, durante 15 horas, pesquisamos toda a peça através de cerca de 80 radiografias. Pela madrugada conseguimos detectar, dentro do flange, um defeito de fundição que produziu o vazamento do interior da válvula para um furo desse flange. A válvula foi então reparada com todo o cuidado. O reparo foi assistido pelo chefe de máquinas do referido navio.

Em menos de 24 horas o flange estava novamente colocado a bordo, funcionando perfeitamente e sem vazamento. “Esse evento foi um dos grandes motivos do nosso interesse permanente na área da inspeção não destrutiva.”

Fonte: A História dos END no Brasil, Revista ABENDI, SP: V II, N° 15, Julho/2006.

Foto: escola interativa


Conceito da Radiologia Industrial
Radiologia Industrial é o emprego das radiações ionizantes, raios x ou gama para fins industriais.
 
Uma das maiores aplicações da Radiologia Industrial, são dirigidas ao processo de qualidade em produtos e materiais.
 
Esses processos são realizados pelos Ensaios não Destrutivos (END), são técnicas utilizadas na inspeção de materiais e equipamentos, que investigam a sanidade do material sem, contudo destruí-lo ou introduzir quaisquer alterações em suas características. Um dos ensaios mais importantes para a documentação da qualidade de produto inspecionado pode se dar à radiografia, por meio do raio x ou gama, pois ela representa a “Imagem” interna da peça inspecionada, o que nenhum outro ensaio não destrutível é capaz de fazer.
 
Usados principalmente nas indústrias de petróleo e petroquímica, geração de energia para inspeção principalmente de soldas e fundidos, automobilísticas, siderúrgica, naval, aeronáutica e ainda na indústria bélica para inspeção de explosivos, armamento e mísseis.
 
A Radiologia Industrial é uma modalidade que se aplica para diversos fins entre elas, Irradiação de alimentos, eliminação de bactérias e microorganismos em cosméticos, Embalagens, Ervas Medicinais, Produtos Farmacêuticos e Produtos médicos hospitalares descartáveis, no setor gemológico utiliza-se irradiação no beneficiamento de pedras preciosas acelerando seu processo de envelhecimento no qual se estivessem na natureza levariam centenas anos até virarem pedras preciosas, na indústria de bebidas à fonte Amerício-241 garante que as latinhas de cerveja e refrigerantes cheguem ate nos consumidores nos níveis corretos, na indústria de papel que opera com medidas padronizadas, e com as técnicas nucleares garantem que todas as folhas tenham a mesma gramatura, e em museus e bibliotecas também utilizam a irradiação em obras de arte e livros, com o propósito de preservação e conservação.

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